Condomínios sofrem com as chuvas

Condomínios sofrem com as chuvas

O mês de janeiro de 2020 já está registrado na história de Belo Horizonte como o mais chuvoso de todos os tempos. Até o fechamento desta edição (dia 29/01) o índice pluviométrico do mês já marcava a impressionante marca de 932,3mm, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

 

O momento mais marcante foi a chuva que caiu sobre a cidade no fim da tarde e início da noite do dia 28. Belo Horizonte viveu cenas de catástrofes, com rios transbordando, carros sendo arrastados, barrancos desabando e água invadindo o comércio, casas e condomínios comerciais e residenciais.

 

Em alguns pontos da cidade ruas se transformaram em rios e levavam tudo que estava pela frente. Pessoas ficaram ilhadas em casas comerciais tentando fugir da força das águas que corriam numa velocidade impressionante.

 

Ambiente urbano – Todo verão, as cenas de alagamentos se repetem e a impressão que temos é que, a cada ano, elas se tornam mais impactantes. Para Elisabete de Andrade, arquiteta urbanista, Drª. em Planejamento Urbano e Regional pela FAUSP e diretora de Cidades do IAB-MG, muita gente boa comentou sobre o acontecido no dia 28 de janeiro com frases do tipo “equívocos de projeto urbano”; “erros na forma da urbanização das cidades” e “decisões urbanísticas que levaram ao tamponamento dos rios”. Na opinião da especialista, as técnicas que foram utilizadas num determinado período da história tiveram seu valor naquela época. “Não quer dizer que deveriam continuar a serem feitas daquela forma. E essa continuidade, mostra como a cidade é produzida: não pela necessidade do conjunto de sua população, mas pela determinação daqueles que lucram com ela”. Dizer que essa urbanização que temos agora é decorrente de planos e projetos feitos por técnicos é parcialmente realidade, pois as decisões da gestão da cidade, têm que se sujeitar tanto a representantes da indústria de construção civil (empreendedores imobiliários, loteadores e mercado financeiro) fortemente representados nas câmaras dos vereadores; nos conselhos municipais e no próprio executivo quanto à utilização de uma técnica ultrapassada, ainda ensinada nas escolas de Engenharia Civil e Arquitetura. O que nos falta é a resposta técnica que atenda à vida cotidiana, a cada um dos moradores dessa cidade, de forma democrática e por tal, equânime”.

 

Nos condomínios – Muitos condomínios foram afetados pela violência da chuva que caiu sobre a cidade. As regiões mais castigadas, foram a Centro-Sul e Barreiro, onde vários casos de alagamentos, queda de muros, rompimento de redes de água e gás foram verificados.

 

Na manhã do dia 29, o que se via pela cidade era um clima de desastre. Ruas completamente destruídas, árvores caídas, carros danificados e muito entulho e lama. A região do bairro de Lourdes foi uma das mais afetadas. Vários condomínios tiveram suas garagens inundadas. Alexandre Barroso, síndico do condomínio Lourdes Home Style, foi um dos que passou a noite do dia 28 para o dia 29 de plantão. Disse que uma das primeiras providencias que tomou, ainda durante a chuva, foi desligar a energia do prédio. “Como a água já estava entrando pela garagem e já tinha atingido o reservatório de água inferior, meu medo era a bomba jogar água contaminada no reservatório superior. Solicitei aos moradores que racionassem a água e chamei então uma empresa especializada para bombear a água para fora do prédio e fazer a desinfecção da caixa inferior. Marquei também uma assembleia extraordinária para discutir a situação com os moradores” contou.

 

Outro que também estava trabalhando duro na manhã do dia 29 foi o síndico Pedro Aspahan do condomínio Altina Lobo, também em Lourdes. Segundo ele a água chegou a 1,5m no andar térreo, onde encontra-se a garagem e uma das unidades. “Aqui já entrou água outras vezes, mas nunca com um volume tão grande como desta fez. A gente fica sem saber o que fazer. Foi uma coisa avassaladora. Minha maior preocupação foi com os cilindros de gás. A água foi entrando, subindo e eles começaram a boiar e eu não sabia o que fazer. Já tinha uma tubulação da Gasmig rompida na rua liberando gás. Quando o pessoal do Corpo de Bombeiros chegou, eu desci e pedi uma orientação. Foi quando eles me acalmaram e disseram que os cilindros possuem travas de segurança automáticas que impedem o vazamento” disse.

 

Seguro – As áreas mais atingidas nos condomínios foram as garagens e as coberturas. No condomínio Altina Lobo, apesar de pequena, a garagem ficou completamente alagada danificando todos os carros. Na cobertura também houve infiltrações. Já no Lourdes Home Style como eram dois níveis de garagem, só o do nível da rua é que foi afetado. Ambos os síndicos disseram que os proprietários tinham seguro.

 

Questionado se já tinha acionado a seguradora, Alexandre Barroso informou que sim e que o corretor, não oficialmente, tinha informado que a seguradora não cobriria os danos. “Estou esperando um posicionamento oficial para tomar as providências cabíveis, inclusive judiciais” finalizou.

 

Corretor de seguro há vários anos, Fábio Carvalho dá as seguintes orientações para os síndicos que estão enfrentando essas situações. “A primeira providência é resguardar vidas! Colocar-se em segurança e solicitar ajuda aos Bombeiros, Defesa Civil e outros que julgar necessários para a preservação da vida das pessoas. Em seguida deve comunicar o fato à seguradora e à corretora de seguros tão logo isso seja possível”. Em relação às coberturas de sinistros ele esclarece que as apólices de seguro condomínio cobrem danos, de acordo com as coberturas contratadas. “Assim, cada caso é um caso, pois cada condomínio escolhe, no momento da contratação do seguro, quais as coberturas que ele precisa. Neste momento é que é muito importante a atuação do corretor de seguros, pois ele pode orientar os síndicos sobre quais as coberturas disponíveis e quais as que devem ser contratadas, de acordo com o risco que cada condomínio apresenta. Ter um corretor especializado faz toda diferença nesta hora” comentou.

 

Custos – Muitos condomínios afetados pelas chuvas não possuíam cobertura contra alagamentos. Em alguns casos isso se deve à falta de informação dos síndicos e, também, a falta de uma boa assessoria de um corretor. “Esta cobertura tem relação direta com a localização do condomínio e com o valor escolhido como Importância Segurada para a referida cobertura. Quanto maior o valor da cobertura de alagamento, maior o custo e, se o condomínio estiver em local com risco maior de alagamento, também agrava o custo da cobertura” enfatiza Fábio. Para ele, a contratação da cobertura de alagamento pode amenizar alguns prejuízos que os condomínios estão tendo nesse momento. “A cobertura de alagamento garante o pagamento da indenização pelos danos materiais de origem súbita, imprevista e acidental, causados por alagamento ou inundação decorrente da entrada de água no local segurado. A indenização está limitada ao limite máximo de garantia fixado na apólice e sujeita às exclusões previstas por cada seguradora” finaliza.

 

Para o presidente do Sindicon-mg, Carlos Eduardo Alves de Queiroz, os síndicos devem ficar atentos aos estragos provocados pelas chuvas e providenciar uma manutenção o mais rápido possível. “Entre em contato com seu corretor, avalie a apólice, a franquia e pondere qual a melhor solução para seu condomínio. Em algumas situações a melhor opção poderá ser o rateio extra para cobrir as despesas. E as providencias devem ser tomadas de forma rápidas para não gerar prejuízos maiores” avaliou.