Crise hídrica: suas consequências e ensinamentos


A grave crise hídrica vivida nos últimos tempos deve provocar uma reflexão geral sobre como lidamos com o tema. Nesse sentido, se, por um lado, o poder público foi incapaz de solucionar o enorme problema da falta de água em São Paulo, por outro, os condomínios também revelaram um despreparo na condução do processo de minimizar seus efeitos.

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No município de São Paulo, esse despreparo tem um agravante. Quase a metade da população habita ou trabalha em edifícios. Ou seja, todas essas pessoas têm relação direta com as consequências da escassez e com as falhas de gestão do condomínio.

Sofrerão com a possibilidade iminente da implementação do racionamento num futuro bem próximo, caso a crise hídrica se mantenha.

O cenário atual nos obriga a tirar alguns ensinamentos essenciais para o futuro.

A falta de previsão ou inércia na tomada de solução por parte de muitos responsáveis pela gestão dos edifícios se assemelha com a expectativa dos governantes com a possibilidade de chuvas torrenciais que milagrosamente “solucionariam o problema”. A ausência de planejamento e de investimento em infraestrutura se faz notar com os equipamentos de muitos condomínios, que de tão velhos tornaram-se obsoletos ou incapazes de produzir o serviço para o qual haviam sido idealizados.

A falta de investimento adequada em infraestrutura nos condomínios é grave erro, o que compromete e reduz a Vida Útil Programada (VUP) dos bens, definida pelos seus respectivos fabricantes.

Normas – Além de cuidar e investir nos equipamentos, conhecer as normas também auxilia o trabalho de gestão condominial em tempos de crise hídrica. Levando-se em conta que, em média, as caixas d’água terão capacidade de suportar de três a quatro dias sem abastecimento, o armazenamento individual segue normas da ABNT (16.280/14, que trata das reformas nas edificações), uma vez que o armazenamento de água em tambores ou similares nas unidades, especialmente nas sacadas, deve ser precedido de uma análise na estrutura para avaliar se o peso extra, pode ser suportado.

O armazenamento de água, aliás, deve ser feito com extremo cuidado, de modo a evitar impurezas e possíveis riscos de doenças vindas com a forma inadequada de sua captação. Também é preciso atenção na vedação e limpeza dessas caixas armazenadoras, evitando que as mesmas se tornem um indesejado criadouro de dengue. Tais medidas são exemplo de ações rápidas e práticas que, junto com programas educativos de redução de consumo, podem ajudar a diminuir as consequências da crise hídrica nos condomínios.

Investimentos – Soluções mais amplas e de melhor resultado, por sua vez, não são de curto prazo e envolvem investimentos e, portanto, novamente resvalam em planejamento. As possibilidades de reuso da água, poços artesianos, captação de água de chuva, individualização na leitura, entre outras medidas, dependem de cálculos e estudos a serem devidamente realizados e passados para aprovação em assembleia condominial.

Enquanto as represas que abastecem a cidade não alcançam níveis melhores, gestores condominiais e condôminos também precisam agir. Inclusive em caso de racionamento que, conforme veiculado na imprensa, só se viabilizará em termos coletivos, com a elaboração de programas de racionamento na distribuição interna e com horários específicos para abertura e fechamento na distribuição para as unidades, ato a ser igualmente aprovado em assembleia geral. Isso até chegar ao caso extremo de necessidade de contratação periódica de caminhão pipa para abastecimento de água potável nos edifícios.

A crise hídrica é, realmente, preocupante. E, nesse caso, aguardar não é o mais indicado. A solução é planejar. Caso a situação hídrica melhore e, eventualmente, não venha o racionamento, o investimento feito se justificará com a redução nas próximas contas. Terá sido uma excelente opção de economia nas despesas condominiais.