Ser síndico não é apenas receber e pagar

Ser síndico não é apenas receber e pagar

Por Por Isabel Pearce

Atitudes e decisões de síndicos que se preocupam com o meio ambiente e o bem-estar da comunidade influenciam no valor das despesas e na valorização do próprio condomínio

 

Exercer o cargo de síndico não é uma tarefa simples, principalmente quando há desorganização e falta de criatividade na resolução de problemas! Anilton de Assumpção Lima, 83, síndico do Edifício Imperador Augusto, localizado na região hospitalar de BH, há 12 anos, afirma que exercer essa função não consiste apenas em “receber e pagar”, pois requer organização e dedicação para administrar e acompanhar regularmente as atividades do condomínio, mesmo quando há uma empresa administradora envolvida.

Ao assumir o cargo em 2006, Anilton, mais conhecido no condomínio como Sr. Lima, possuía apenas um ano de experiência como subsíndico no mesmo edifício. Inicialmente, ele não havia se interessado pelo cargo de síndico, mas ao se deparar com o descaso na preservação do patrimônio do condomínio e a desorganização dos registros e documentos referentes aos gastos do prédio, acabou se envolvendo em sua administração e atualmente demonstra uma boa dose de orgulho e satisfação pelo desenvolvimento de suas ideias e projetos, que não só melhoraram a qualidade de vida dos condôminos, como também valorizaram o imóvel.

Lima foi o responsável pela criação do fundo de reservas que possibilitou uma extensa reforma, há muito necessária no edifício de 12 unidades, construído no início da década de 70. Muito ativo e educado, diz “gostar de coisa arrumadinha” e, de fato, idealizou reformas e melhorias até nos mínimos detalhes, como o paisagismo do pequeno jardim e o conserto e pintura de móveis na área comum do condomínio. Mas há dois pontos principais na sua administração que chamam mais atenção: a gestão de documentos e a implantação de um sistema de reaproveitamento de água pluvial.

 

Organização – Quando Lima assumiu a responsabilidade pelos documentos do prédio, encontrou-os totalmente desorganizados em grandes sacos, o que tornava difícil quaisquer consultas. “Organizei todo o material em pastas, e guardei cuidadosamente em um antigo quarto de entulho, que transformei em arquivo e almoxarifado” comenta Lima.

Todo mês ele organiza as contas e faz um balancete dos gastos mensais, incluindo os mais rigorosos detalhes, o qual ele encaminha para cada condômino, permitindo assim a possibilidade de se observar exatamente os serviços e produtos pelos quais se está pagando. Por exemplo, ao invés de contabilizar um pagamento por um serviço de marcenaria, como faria uma empresa de administração, Lima escreve “reparo e pintura em 3 bancos e 1 cadeira”, pois acredita em um trabalho com o máximo de transparência e honestidade possível. Esse mesmo balancete mensal é enviado então à administradora, facilitando o trabalho de contabilidade.

 

ÁGUA – Quanto ao sistema hídrico do prédio, que já contava com duas caixas d´água superiores de 20.000 litros, Lima percebeu durante uma época de escassez, há cerca de dois anos, que seria interessante reutilizar a água pluvial para abastecimento do próprio condomínio, ajudando a reduzir gastos com o consumo. “Utilizei um antigo reservatório subterrâneo desativado para direcionar a água da chuva captada nas calhas do prédio, a fim de que fosse utilizada para regar os canteiros e lavar o hall de entrada e a garagem do edifício. Com a implantação desse sistema houve uma redução de aproximadamente 20 a 25% do valor da conta da Copasa” ressalta Lima.

Mas um outro fator chamou a atenção do síndico em relação ao consumo de água no condomínio. As obras recentes da reforma no prédio geraram um aumento, já esperado, no gasto de água, porém, com o término das obras, o valor das contas se manteve elevado. Lima acionou a Copasa após perceber que nos últimos meses o leiturista não havia comparecido ao edifício. Constatou então, que  o valor do consumo estava sendo baseado em uma média e não no consumo real do mês. E, de fato, ao fazer a verificação no hidrômetro, foi constatado que as medidas estavam alteradas e um desconto foi dado para o mês seguinte.

Os condôminos revelam-se muito satisfeitos com o desempenho do Sr. Lima como administrador e responsável pelo prédio e isso pode ser verificado pelas sucessivas reeleições para síndico. Prestativo e sorridente, ele sai diversas vezes de seu caminho para cumprimentar ou abrir a porta para alguém, demonstrando seu carinho pelo trabalho e praticando os ideais que ele preza. Uma história que Lima gosta de compartilhar, é sobre como ele investiu parte do dinheiro do fundo de reserva em títulos de capitalização, para ajudar o gerente do banco a ganhar comissões. “Fui agraciado com 50 mil reais na conta do condomínio, que ajudaram a aprimorar a reforma do prédio! ” contou aos risos.

Como mensagem aos síndicos e leitores do jornal do Síndico – que faz questão de dizer que utiliza com frequência para consultas -, enfatiza a importância da transparência e honestidade nas relações tanto com os vizinhos condôminos, quanto com os funcionários e demais pessoas, buscando sempre o bem-estar da comunidade.

Destaque: Fui agraciado com 50 mil reais na conta do condomínio

 

Ilustração: Lima se orgulha de ter implantado um sistema de captação de água de chuva que reduziu o valor da conta de água