Dia de reunião

Dia de reunião

Por Adrianne Campos Salles

E lá se foi ela, sentindo-se animada, confiante e cheia de expectativas quanto aos novos projetos

 

Como uma otimista inveterada, achava que teria quorum expressivo na reunião de condomínio. Chegou pontualmente às 19 horas, como combinado na Convocação. Como sempre, o coração acelerado e borboletas na barriga. Não sabia o porquê. Talvez a responsabilidade lhe pesasse, como no artista antes do show. E pensando bem, não deixava de ser, pois coisas surreais podiam acontecer nessas assembleias condominiais.

 

Tinha muita expectativa, pois votariam a proposta de aumento de condomínio, imprescindível para retornar as manutenções do prédio antigo e decadente. Tinha a certeza que muitas pessoas iriam, pois o assunto mexia com o bolso dos moradores. Então, com certeza, aquelas inúmeras cadeiras deixadas á disposição seriam preenchidas.

 

Até as 19:35 horas, só um morador. Seu rosto começou a mudar de expressão. Já não tinha confiança no olhar. Uma pequena ruguinha apareceu em sua testa. “E se não vier mais ninguém?” pensou aflita. “Vamos esperar mais um pouco?” perguntou ao morador solitário que esperava. Ele respondeu que sim, provavelmente em apoio à causa, pois já estava com uma expressão de desconforto. O tempo foi passando, e dois “gatos pingados” chegaram. “Bem, a reunião já pode começar. Temos quorum para compor a mesa.”. O presidente e o secretario foram escolhidos, quase à força, mas foram. A reunião começou e os números apresentados. Aos poucos, outros “gatos pingados” chegando, pegando o tal “bonde andando”, atrasando e confundindo a reunião, mas no final deu tudo certo. A votação aconteceu, decidindo-se pelo aumento de 1% acima da inflação.

 

Já eram quase dez da noite, e chega um desavisado, com expressão furiosa, e solta a “pérola”: “Já acabou? Mas que absurdo! Vocês votam um assunto tão importante em dia de Clássico?! O que vocês têm na cabeça?”. E ela, síndica inexperiente em seu primeiro mandato, inexperiente também em assuntos futebolísticos, além de ser um pouquinho surda, pergunta alto: “quem é esse Plácido, meu Deus?”.

 

é escritora e síndica