Debate sobre pontos de recarga de carros elétricos ainda gera dúvidas e polêmicas

Debate sobre pontos de recarga de carros elétricos ainda gera dúvidas e polêmicas

Por – André Resende – Jornalista

Publicado em 07/08/2025

Uma questão que ainda tem suscitado dúvidas em muitos síndicos e condôminos são as normas técnicas e as regras que devem ser obedecidas para instalação de pontos de recarga de carros elétricos em condomínios. O debate avançou em várias questões, fóruns e reuniões que estão sendo realizadas, mas ainda carece de uma legislação clara e objetiva sobre o assunto.

Síndico de um edifício com mais de 100 unidades na zona sul de São Paulo, Rogério Antunes viveu na prática um dilema que muitos condomínios começam a enfrentar: um morador comprou um carro elétrico e solicitou a instalação de um ponto de recarga na própria vaga. A discussão chegou até a assembleia e, mesmo com a maioria favorável, esbarrou em questões técnicas e no receio de aumentar o custo da conta de luz coletiva.

Discussão – O tema deixou de ser um caso isolado e vem ganhando espaço em debates, encontros do setor condominial e até no Congresso Nacional. Em São Paulo, tramita um projeto de lei estadual para facilitar a instalação de pontos de recarga em edifícios residenciais e comerciais. Já em Brasília, parlamentares discutem proposta que daria mais segurança jurídica aos moradores interessados e obrigaria novos empreendimentos a prever infraestrutura para recarga desde a fase de construção.

Para especialistas, a falta de regras claras ainda é o maior obstáculo. “Hoje, cada condomínio acaba criando a própria solução, o que gera insegurança técnica, riscos elétricos e até conflitos entre vizinhos”, afirma a engenheira eletricista Mariana Lemos, que participou recentemente de um evento sobre o tema promovido por administradoras. Segundo Mariana, entre os principais desafios está a definição de como cobrar individualmente o consumo de energia.

Estrutura – “O ideal é que cada ponto de recarga tenha seu medidor separado, evitando que o custo vá parar na conta geral. Mas em prédios mais antigos isso exige adequações complexas, que podem ser caras”, explica. Outro ponto sensível, segundo ela, é o limite de carga disponível. “A rede do prédio nem sempre suporta vários carros carregando ao mesmo tempo. É preciso estudo técnico para avaliar a capacidade e, em alguns casos, até reforçar a infraestrutura elétrica”, acrescenta.

Moradora e proprietária de um carro elétrico, Fernanda Almeida vê com otimismo a possibilidade de regras mais claras. Ela lembra que, no condomínio onde vive, o assunto gerou insegurança. “Teve quem achasse que ia pagar pelo consumo do vizinho, outros tinham medo de incêndio. Com a regulamentação, fica mais fácil explicar que existe padrão técnico e segurança. E também impede que o pedido de instalação seja barrado por puro preconceito ou desconhecimento”, comenta.

Futuro – Apesar das discussões ainda em andamento, especialistas já consideram inevitável que os condomínios se preparem para a nova realidade. Mariana acredita que, nos próximos anos, haverá uma transição parecida com a que aconteceu quando prédios passaram a exigir infraestrutura para ar-condicionado split. Enquanto aguardam uma definição nacional, síndicos como Rogério têm buscado orientação com empresas de engenharia, administradores e advogados para montar regras internas.

“A gente quer incentivar, mas precisa fazer com responsabilidade, sem gerar custos injustos nem riscos para todos”, resume. No meio desse debate, cresce a percepção de que, mais do que tendência, a chegada dos carros elétricos é uma realidade que bate à porta das garagens, e quem se preparar primeiro deve sair na frente.