Síndico, cuidado para não se tornar um tirano


Já sabemos que o medo não é aliado de boas decisões. Essas voltas que a pandemia nos provoca, tem deixado a sociedade alvoroçada e isso não é diferente nos condomínios.

Quantas não são as discordâncias entre as pessoas nesses tempos, não é mesmo? Assembleias virtuais, fechamento de áreas comuns sem redução proporcional da quota, uso obrigatório de máscaras, entre outros. Situações como essas, as quais não podemos prever e cujo controle é dificílimo, normalmente despertam como mostra a instabilidade política nacional os “tiranetes de plantão”.

Conta a anedota que um homem levou sua esposa para uma exposição artística, em um desses famosos museus estrangeiros. Acontece que ele, sendo míope, só se deu conta de que esquecera seus óculos, depois de entrar ao museu. Era um desses chamados de eruditos. Mesmo sem as suas lentes, o homem não deixa de opinar com veemência diante das obras de arte. Faz críticas ferozes a cada uma delas. Em certo momento, ele se depara com um quadro grande, em tamanho natural (era um retrato de corpo inteiro) e começa a criticar a moldura, a roupa do personagem (como sendo ridícula e inadequada), além do aspecto sujo do modelo que foi utilizado para a pintura. Com muito cuidado, e com a doçura própria das mulheres, sua esposa se aproxima dele e lhe diz: “-Meu bem, você está olhando no espelho”.

Esse exemplo serve para mostrar que em alguns condomínios existe uma espécie de miopia administrativa. Melhor dizendo, síndicos estão se valendo de regramentos internos para estabelecer um desnecessário e porque não dizer imoral caos interno. Um exemplo são aqueles síndicos que estão a proibir que os condôminos deixem seus sapatos sobre o capacho, na porta dos seus apartamentos, sob o pretexto disso não haver sido autorizado em reuniões condominiais e de ferir o belo dos seus corredores.

Conseguem perceber o non sense e a falta de empatia com o próximo, ao proibir medidas publicamente aconselhadas por profissionais de saúde (e até por ministros e secretários de governo)? Como sempre foi e como sempre será, o bom senso não há de substituir nenhuma norma legal, nem anterior, nem posterior a pandemia.  Como já disse um santo sábio, o melhor negócio do mundo seria comprar os homens pelo que eles efetivamente valem e vende-los pelo que eles acham que valem.

Felipe Sampieri Iglesias

felipe.iglesias@machadoiglesias.com.br